PÉ NA COVA 4.6 -

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Momento Cultural -- terça-feira, fevereiro 10, 2004
O PÉ [se alguém souber a autoria, por favor diga]

Segundo reza uma lenda sem pé nem cabeça, o Homem começou sua evolução com o pé direito. No início, era uma dúzia de pés rapados, mas logo se organizaram socialmente em duas castas: os pé-de-boi e os pé-quente. Aos primeiros, cabia não arredar o pé do pé-de-pilão; aos segundos, cuidar do pé-de-meia. Cada grupo cumpriria ao pé da letra sua tarefa. Afinal, o lucro era divido em pé de igualdade. Não havia ódios e todos faziam pé firme no regime.
A Sociedade cresceu, porque dava pé. E evoluiu: inventaram o pedal (depois, a roda); o pé-de-moleque revolucionou a culinária; encontraram a cura para o pé-de-atleta; apareceram as Ciências (Pediatria, para tratar os pezinhos dos nenês e a Pedagogia, para educar do pé-de-chumbo ao pé-chato); nas letras, fizeram sucesso com os versos pé-quebrado; construíram-se os famosos jardins suspensos com igarapés; o Homem sonhava com o futuro, ao pé do fogo.
Enquanto isso, os outros povos nem chegavam aos pés desses bons de pés em matéria de cultura e história. As demais tribos viviam em pé de guerra umas com as outras. As cidades dos pés juntos surgiam aos montes, porque havia muita gente com o pé na cova. Então, a sociedade ficou com um pé atrás.
E o pior aconteceu no grande arrasta-pé atual, uma festa onde o prato principal era o bife a pé. O nômades atacaram em silêncio na ponta dos pés, enquanto os pé-de-valsa dançavam.
A Socieade foi atacada a pé-de-cabra. Mas, rápida como um pé-de-vento, ela se defendeu. A derrota dos assaltantes, uns peraltas, foi num pé só e eles nem tiveram tempo de pôr o pé no estribo. O azar foi tanto que é provável que o golpe tenha sido dado com o pé esquerdo.
E foram escravizados, apesar de baterem o pé que o que queriam era dar no pé dali. Jamais tiraram o pé do barro.
Mas o problema mesmo foi conviver com os outros habitantes, no pé em que as coisas estavam: os escravos metiam os pés pelas mãos, não faziam a higiene após irem aos pés e se recusavam terminantemente a participar de lava-pés e beija-pés (principalmente sem a primeira parte do ritual).
O que a Sociedade podia fazer? Não largar o pé deles? Já havia transtornos de sobra: epidemia de bicho-de-pé, a corrupção na cobrança de pedágio aos escravos pés-chatos e a falta de um pé-de-apoio para não pisar em falso naquela anarquia.
Para complicar, havia a pederastia - um costume introduzido pelos bárbaros, que consistia em esfregar os pés nos de outra pessoa e ir subindo, até gozar pé por pé.
E também não se podia mais distinguir quem eram os pedintes (com os seus chapéus rotos nos pés tortos, esmolando para comprar pés-de-patos e tomar pé no rio), tamanha era a balbúrdia geral. A Sociedade ia perceber. A prova disso eram os pés-de-galinha nas mulheres com pé-de-anjo.
Ah, pensaram os governantes, cairia, sim, mas cairia em pé. Eles ainda tinham os pés na terra, embora quisessem pô-los na estrada. Planejaram uma caminhada de pedestres (a pé, naturalmente), sobre os miseráveis. Iriam pisotear os invasores! Acabariam com os pés frios da sua paz e felicidade!
Ao pé de dois dias de planos, avançaram. A turba anárquica, de pé, fincado mais distraída, nem percebeu que a Sociedade vinha pé ante pé para desmanchar com os pés o que eles, os estúpidos, haviam feito com as mãos. Quando se deram conta, era tarde para ficar de pé. Ficaram foi petrificados, sem poder apertar o pé. Aí, levaram um pé no saco. A batalha terminou em seguida e a Sociedade, em pedaços, tentou se reerguer. Em vão: seu pedestal tinha caído de quatro pés. Desesperados e meio pernetas, saíram perambulando sem saber para onde.
Até hoje estão peregrinando. Mas de vez em quando você pode perceber, ao pé do ouvido, um sinal daquela civilização: é som de indivíduos da Sociedade trocando pontapés entre si. Nada mais pedante.


Herenvarno proferiu às 02:30